quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Baleeira


No final de Agosto tive o privilégio de fazer parte da tripulação de um veleiro que saiu de Portimão com destino a Lisboa.Tripulação essa composta por três marinheiros desejosos de içar velas e apanhar a brisa fresca de nordeste que se advinhava ao largo da baía de Portimão.

O Mar estava revolto de pequena vaga alterada ,os 30 nós de vento á bolina cerrada inclinavam o barco para sotavento de tal modo que foi imposta uma nova arrumação no interior, saltando tudo do seu lugar habitual. Outras embarcações refugiavam-se junto á linha de costa procurando nas escarpas altas alguma protecção.

A noite aproxima-se e o cabo de sagres também, a tripulação estava cansada e molhada,este vosso escriva com notória falta de equipamento ressentia-se das mãos doridas dos cabos ,e os pés encharcados á mais de 3 horas. A falta de experiência vai-se notando e o cansaço também.

Praia da Baleeira, porto de pesca de Sagres, praia do Zavial, cabo de São Vicente, fazem parte sem dúvida de um Algarve diferente. Esta é uma zona muito conhecida pelos adeptos de Surf, Windsurf e Bodybord. O promontório de Sagres oferece uma excelente protecção natural aos ventos predominantes, procuravamos essa proteção quando entramos pela enseada da praia da Baleeira. Era já de noite as rochas a estibordo tinham um aspecto ameaçador na escuridão, nenhum de nós alguma vez tinha estado ali, procuramos junto ao molhe do porto de pesca um espaço entre o emaranhado de boias, cabos soltos e desfiados pelo tempo e restos de redes velhas.

Meia dúzia de veleiros descansavam ao longo da baía, água parada, o vento já não se sentia. Colocamos o auxiliar na água e fomos á procura de um restaurante.

Achei estranho o facto de junto ao paredão do porto estarem estacionados cerca de duas dezenas de auto-caravanas,o restaurante estava cheio, já não servem aquela hora! outra tentativa mais acima no lugarejo. Aí sim, mesmo cheio arranjou-se espaço para mais três, o restaurante estava cheio de malta nova, ficamos a saber que havia um festival de música no fim-de-semana, quase toda a gente tinha optado por acampar nas dunas.

Por qualquer razão fiquei com vontade de voltar áquele lugar, não sei se foi devido ao ambiente, á nostalgia da juventude com bom ar ou ao facto de saber que estava numa zona livre de turistas hoteleiros. As casas antigas pintadas da cor da terra, o velho pontão ferrujento e corroído, a praia selvagem com as dunas logo ali ao lado, gostei, gostei mesmo. Regressamos para o barco já tarde, passava da meia-noite, dali a 5 horas seria o despertar para mais uma tirada. Ali no meio da penumbra advinhava-se o descanso nos outros veleiros, o silêncio em toda a baía era inspirador, fiquei um pouquinho mais na coberta, há 5 séculos que aquela baía cumpria a sua função, proteger, embalar os marinheiros para outras paragens mais longínquas e tenebrosas. O nosso passeio era uma viagem de meninos em comparação com tanta ousadia. mas tudo tem que começar por algum lado, eu estava a começar por um sítio inspirador e cheio de história, estava a começar a fazer a minha própria história.


P.S. a foto corresponde ao local descrito e foi tirada na manhã seguinte.

a foto abaixo não corresponde á" sagres" mas sim ao "creoula"

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Uma feliz coincidência


" O empregado do bar do terraço já não está a achar graça. É a terceira vez que eu venho pedir-lhe para abrir a janela e é proibido fazê-lo. Por causa de acidentes ou suicídios:um vigésimo quinto andar sobre a atmosfera tristonha e mal cuidada de Montevideu atrai muita vertigem do abismo. Prometo que não o volto a incomodar, só mais esta vez. Primeiro, foi por causa da vista impressionante sobre a cidade histórica,o porto,a baia e a colina. Mas o sol estava coberto por uma nuvem. Passados alguns minutos,a nuvem foi embora e uma luminosidade fantástica desceu sobre o Rio da Prata. A fotografia anterior ficava obsoleta ao lado desta,e o empregado do bar,resignado,lá teve que abrir novamente a janela.

Agora, não só tenho a luminosidade e a vista, mas também um veleiro magestoso e indolente que desliza em contraluz de sabe-se lá que recanto do mundo até ao porto de abrigo da baia de Montevideu."É o navio-escola Miranda"esclarece, lacónico, o empregado do bar,"o orgulho da marinha do Uruguai." Agadeço, esclarecido. Aliás, mal esclarecido. Não é nada o Miranda do Uruguai, venho a sabê-lo depois, á noite, num bar do porto,pelo grupo animado de marinheiros Portugueses, e o veleiro magestoso e indolente é o navio-escola Sagres. O orgulho da marinha de Portugal, apetece-me concluir.


Excerto de: CADILHE,Gonçalo, Nos passos de Magalhães, oficina do livro,2008

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Dia de Chuva

Está a chover e uma certa neblina no ar, e eu gosto.Agora ,quando fôr para casa,passo no cais de Alhandra e tenho a certeza que vou encontrar um ambiente magnifico (pelo menos para mim).
Acredito que na cidade a desolação seja mais que muita,com o transito caótico e as pessoas mal humoradas com esta chuva fora de época,mas o Rio não se importa com isso e estará soberbo.